IA no Ensino Superior: riscos e desafios

Nos últimos meses, o uso da IA no ensino superior deixou de ser uma curiosidade para se tornar rotina. Segundo o artigo AI in higher education: Experts discuss changes to be seen da Phys.org, cerca de 90% dos estudantes universitários já usam IA para fins acadêmicos, e mais da metade o faz semanalmente. 

Embora essas ferramentas possam apoiar a aprendizagem, há um risco claro: em vez de refletir e experimentar, muitos estudantes recorrem à IA para obter respostas prontas, pulando etapas essenciais do raciocínio e da aquisição do conhecimento. O ato de estudar Matemática, por exemplo, exige esforço mental de resolução. Porém a IA está criando "atalhos" para que os estudantes estudem somente a resolução e a solução Matemática. O Artigo da Phys.org corrobora, e menciona que a diferença entre “ter a resposta” e “entender como se chegou a ela” se torna tênue, e o engajamento intelectual sofre. Venho observando esse comportamento em disciplinas que ministro em ciências exatas de forma clara.

O desafio se agrava nas pavaliações online e nos trabalhos acadêmicos, cada vez mais vulneráveis a fraudes. O resultado é que estudantes podem conclui-los sem desenvolver, de fato, o conhecimento que deveriam adquirir, fragilizando o propósito da educação superior.

Esse tipo de problema não está restrito ao ensino superior. Alunos da rede pública do estado de São Paulo foram relatados "hackeando" plataformas de ensino do governo para cumprir tarefas em segundos. 

Fonte aberta aqui: https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/historia-hoje/estudantes-utilizam-hacks-em-plataformas-de-ensino-do-governo.phtml

Fonte original aqui: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2025/09/alunos-hackeiam-plataformas-de-ensino-do-governo-de-sp-para-cumprir-tarefas-em-segundos.shtml

Minha preocupação enquanto professor de ensino superior em exatas e licenciaturas em Matemática, é que o aprendizado de exatas está sendo seriamente comprometido. As universidades precisam discutir com urgência como integrar a IA ao ensino superior de forma ética e responsável. E não basta a discussão, precisam colocar dispositivos regulatórios e norteadores para os trabalhos acadêmicos, principalmente as monografias de TCCs, dissertações e teses.

Quem acredita que o problema não existe ou que a IA ainda não impacta no ensino, aprendizagem e avaliação, está, na verdade, fechando os olhos para uma "bomba" prestes a explodir: o uso indiscriminado e sem orientação dessas ferramentas pelos alunos universitários. 

Mas será que os professores universitários estão preparados para lidar com isso?

Sem a revisão de métodos de avaliação, políticas institucionais (regimentos e regras para trabalhos acadêmicos), o ensino e a aprendizagem correm o risco de se reduzirem a uma mera busca por respostas prontas, em vez de estimular o conhecimento, a reflexão, a criatividade e o pensamento crítico.


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